Aqui, eu gostaria de acrescentar outro princípio para o viver: o princípio do pecado. Você pode dizer que todos no mundo podem viver conforme, pelo menos, três princípios: podem viver pelo pecado, ou pelo certo e errado, ou pela vida.
O que isso significa? É muito simples. Muitas pessoas vivem na terra seguindo as concupiscências de sua carne. Esses são filhos da ira que estão apegados às modas do mundo. Vivem e agem conforme os espíritos malignos em seus corações. Seu princípio de vida é que vivem pelo pecado (Ef 2:1-3). Esta manhã, não quero falar acerca desse princípio. Creio que muitos entre nós já deixaram o princípio do pecado. O que consideraremos esta manhã está separado do princípio do pecado. Essas duas árvores representam dois princípios de vida. Depois de se tornarem cristãs, algumas pessoas vivem pelo princípio do certo e errado, ao passo que outras vivem pelo princípio da vida.
Ao falar sobre esse assunto, eu estou supondo que já deixamos o princípio do pecado e estamos andando diante de Deus. Se considerássemos um pouco, veríamos que algumas pessoas vivem conforme o princípio do certo e errado ou do bem e do mal. Por favor, lembrem-se que o princípio do certo e errado, o princípio do bem e do mal, não é cristianismo. Cristianismo é uma questão de vida, não de estar conforme um padrão. Cristianismo fala de vida, não de bem e de mal. Cristianismo ensina vida, não certo e errado. Há muitos irmãos e irmãs jovens aqui esta manhã. Gostaria de dizer-lhes que depois que vocês receberam o Senhor Jesus e obtiveram uma nova vida, ganharam algo maravilhoso interiormente. Obtiveram outro princípio de vida. Contudo, se vocês não sabem isto, deixarão o princípio de vida de lado e começarão a seguir o princípio do certo e errado.
O SIGNIFICADO DE SEGUIR O PRINCÍPIO DO CERTO E ERRADO
O que é o princípio do certo e errado? Se nossa conduta é controlada pelo princípio do certo e errado, então perguntamos se algo está certo ou errado sempre que temos que fazer uma decisão. Seria bom ou seria mau fazer isto? Quando perguntamos se é bom, estamos, com efeito, perguntando a nós mesmos: “Estou certo ao fazer isto ou não?” Muitas pessoas consideram assaz se algo é bom ou mau. Elas consideram se podem ou não fazer certa coisa. Perguntam: “Isto está certo ou errado?” Quando elas consideram cuidadosamente certa questão, sendo cristãs, determinam se é bom e certo fazer tal coisa. Ao tomarem cuidado para decidir se algo é bom e certo ou não, elas se consideram bons cristãos.
A palavra de Deus diz: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). No máximo, essa prática é somente um discernir o bem do mal. Na melhor das hipóteses, é meramente escolher e rejeitar ___ escolher o bem e rejeitar o mal. Isto não é cristianismo. Cristianismo não tem um bem exterior e um mal exterior. Não tem um padrão definido no lugar. Eu posso escolher algo bom e rejeitar algo mau hoje, mas isto não é cristianismo. É o Antigo Testamento, a lei, as religiões mundanas, a moralidade humana, e a ética humana, mas não é cristianismo.
CRISTIANISMO É BASEADO NA VIDA
O que é cristianismo? Cristianismo é vida. Cristianismo não é uma questão de perguntar se algo é certo ou errado. Cristianismo é uma questão de verificar, com a vida dentro de nós, sempre que fazemos algo. O que a nova vida que Deus nos deu diz-nos interiormente sobre essa questão? É muito estranho que muitas pessoas tenham visto apenas um padrão exterior, o padrão do bem e do mal. Contudo, Deus não nos tem dado um padrão exterior. Cristianismo não é um novo conjunto dos Dez Mandamentos. No cristianismo, não temos sido levados a um novo Monte Sinai, nem Deus nos tem dado um novo conjunto de regras e regulamentos com “Tu farás” e “Tu não farás.” Cristianismo não exige que perguntemos se algo é certo ou errado, bom ou mau. Pelo contrário, sempre que fazemos algo, há uma vida dentro de nós que se levanta para falar conosco. Quando nos sentimos corretos interiormente, quando sentimos a vida dentro de nós se movendo, quando somos fortes interiormente e sentimos a unção, sabemos que temos vida. Muitas vezes, algo é certo e bom aos olhos do homem, mas, estranhamente, a vida interior não tem reação e se torna fria e recolhida.
Lembrem-se, por favor, a Palavra de Deus nos diz que nosso viver cristão é baseado em uma vida interior, não em um padrão exterior de certo e errado. Muitas pessoas mundanas, que não são salvas, vivem conforme o melhor padrão de vida que elas podem atingir: o princípio do certo e errado. Se você e eu também vivemos pelo princípio do certo e errado, somos o mesmo que as pessoas mundanas. Os cristãos são diferentes dos não cristãos, pois não vivemos por um padrão exterior ou por lei. Nosso propósito não é uma moralidade ou conceitos humanos. Nós não determinamos se algo é certo ou errado por sujeitá-lo à apreciação ou opinião humanas. Hoje, temos somente uma pergunta: O que diz nossa vida interior? Se a vida está forte e ativa dentro de nós, podemos fazer isso; se a vida está fria e recolhida dentro de nós, não devemos fazê-lo. Nosso princípio para viver é interior ao invés de exterior. Este é o único princípio verdadeiro de vida; os outros são falsos. As pessoas podem dizer que muitas coisas são certas para fazer, e posso sentir que fazê-las é certo, mas o que o sentimento da vida interior nos diz? A vida interior não concorda. Se fôssemos fazê-las, não seríamos recompensados, e se não devemos fazê-las, não deve haver vergonha, pois elas estão fora de nós. Só podemos ver o que realmente é certo quando o Espírito de Deus opera dentro de nós. Se sentimos que há vida interiormente, então essa questão é certa. Se não sentimos a vida interior, então a questão é errada. Certo e errado não são decididos por um padrão exterior, mas pela vida interior.
O PADRÃO DE VIDA É MAIS ELEVADO QUE O MODOELO DO BEM
Uma vez que essa questão está resolvida, podemos ver que não devemos apenas evitar tudo que é mau, mas também tudo que é meramente bom. Os cristãos só podem fazer o que vem da vida. Podemos ver que há coisas más, coisas boas e coisas da vida. Não estamos dizendo que os cristãos devem tão-somente fazer coisas que sejam boas e coisas que sejam da vida. Antes, estamos dizendo que os cristãos não devem fazer coisas boas ou coisas más. Deus disse: “Da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Note que “bem e mal” são postos juntos aqui como um caminho, enquanto “vida” é outro caminho. Os cristãos não devem apenas recusar o mal, devem mesmo recusar o bem. Existe um padrão que é mais elevado que o padrão do bem; é o padrão da vida.
Tenho falado acerca desse assunto com muitos irmãos jovens, mas gostaria de repetir minha história novamente hoje. Quando comecei a servir o Senhor no início, procurava evitar tudo que fosse mau e, deliberadamente, me punha a fazer tudo que era bom. Conforme o ponto de vista humano, eu parecia estar progredindo esplendidamente em evitar o mal e fazer o bem. Havia um problema, entretanto. Visto que eu estava querendo saber o que era certo e errado, eu queria ter clareza sobre o que era certo e o que era errado em cada assunto, antes de fazer qualquer coisa. Naquele tempo, eu tinha um cooperador que era dois anos mais velho que eu, e nós estávamos sempre discordando. As diferenças que surgiam entre nós não diziam respeito a nossos afazeres pessoais. Nossas discórdias eram acerca de questões públicas, e nossas disputas eram públicas também. Eu costumava dizer a mim mesmo: Isso é errado; se ele quiser fazer coisas dessa maneira, eu protestarei. Contudo, não importava quanto eu protestasse, ele nunca cedia. Sua única desculpa era que ele era dois anos mais velho que eu. Eu podia argumentar com qualquer outro motivo, mas não podia argumentar com o fato que ele era dois anos mais velho que eu. Eu não podia vencer esse argumento, todavia, interiormente, eu não concordava com ele. Contei essa história a uma irmã mais velha, que era rica espiritualmente, e pedi-lhe para arbitrar. Ele estava certo ou eu estava certo? Ela não disse que ele estava certo nem disse que ele estava errado. Ela simplesmente me fitou com os olhos e disse: “Você deve fazer como ele diz”. Fiquei infeliz interiormente e pensei: “Se eu estou certo, diga-me; se eu estou errado, então diga-o. Por que você diz que devo fazer como ele diz?” Pedi-lhe para dar-me uma razão para sua resposta. Ela disse: “No Senhor, o mais jovem deve submeter-se ao mais velho.” “Mas”, eu retruquei: “No Senhor, se o mais jovem está certo e o mais velho errado, o mais jovem ainda deve se submeter?” Naquele tempo eu estava no curso secundário e não tinha aprendido nada acerca de disciplina, portanto dei livre curso à minha ira. Ela ainda sorriu e disse: “Seria melhor você fazer como ele diz.”
Uma vez, algumas pessoas estavam indo ser batizadas, e havia três de nós cuidando do assunto. Eu era o mais jovem, depois o irmão que era dois anos mais velho que eu, e, finalmente, havia o irmão Wu, que era sete anos mais velho que ele. Eu pensei: “Você é dois anos mais velho que eu, portanto eu tenho que me submeter a você em tudo. Ele é ainda mais velho. Vejamos se você se submeterá ou não.” Ficamos juntos para discutir essa questão, todavia ele recusou aceitar qualquer coisa do irmão Wu. Em todos os pontos, ele insistia em ter sua própria maneira. Finalmente, ele disse: “Simplesmente, deixe as coisas comigo; farei tudo sozinho.” Eu pensei: “Que tipo de lógica é essa? Você insiste para que eu sempre obedeça a você, pois você é meu superior, todavia você nunca precisa obedecer a seu superior.” Imediatamente, procurei essa irmã para perguntar-lhe sobre essa questão. Fiquei aborrecido, pois ela não prestou atenção ao certo ou errado. Ela se levantou e perguntou: “Você não tem visto o que é a vida de Cristo? Há alguns meses, você tem vindo continuamente para dizer que você está certo e esse irmão está errado. Você não sabe o que é a cruz? Você está insistindo na retidão da questão, mas eu insisto na vida da cruz.” Eu tinha estado a insistir sobre o certo e errado. Não tinha visto a questão da vida, nem a cruz. Portanto, ela perguntou-me: “Você pensa que você está certo em fazer isso? Você pensa que você está certo ao dizer essas coisas? Você pensa que é certo para você dizer-me essas coisas? Todas elas estão certas conforme a razão, mas eu pergunto como você se sente interiormente. Qual é seu sentimento interior?” Pude apenas confessar que eu tinha estado certo conforme a razão, mas errado conforme a vida interior. O padrão do viver cristão não apenas trata com coisas más, mas também com coisas boas e retas. Muitas questões estão certas conforme os padrões humanos, porém o padrão divino as declara erradas, pois elas carecem da vida divina. No dia ao qual eu me referi, eu vi essa luz pela primeira vez. Desde então, comecei a me perguntar se a vida que eu vivia diante de Deus era de acordo com o princípio da vida ou com o princípio daquilo que eu considerava certo e errado. Eu me perguntei: “Eu estou fazendo isso apenas porque é certo?” A chave para tudo é essa: Outros podem dizer que algo é certo. Nós também podemos dizer que é certo, contudo a vida do Senhor se levanta dentro de nós ou ela recua quando começamos a fazer algo? Quando começamos a fazer algo, sentimos a unção ou nos sentimos deprimidos? Quando estamos fazendo essa coisa, temos um sentimento crescente que estamos na trilha certa, ou há algo nos dizendo que estamos fora do caminho? Por favor, lembrem-se de que a vida não faz decisões conforme padrões exteriores de certo e errado. As questões devem ser decididas conforme a percepção da vida de Deus ou a percepção da morte. Decisões devem ser feitas conforme a vida de Deus quando ela se levanta ou recua dentro de nós. Nenhum cristão deve dizer que pode fazer algo porque é bom ou certo. Devemos perguntar ao Senhor dentro de nós. Qual é o sentimento interior que o Senhor dá? Sentimo-nos alegres interiormente acerca desse assunto? Temos felicidade e paz espirituais? Essas são as questões que decidem nossa senda espiritual.
Quando eu estava visitando Honor Oak, havia outro irmão que também era um convidado ali. Ele tinha muitas críticas ao lugar. Ele tinha sido pastor e era um bom pregador, e sabia que Honor Oak tinha muito a oferecer espiritualmente. Não obstante, ele desaprovava muitas coisas. Quando nos encontrávamos, ele gostava de me contar quão melhor era seu lugar que Honor Oak. Durante os dois ou três meses que ficamos juntos, suas críticas excederam as de qualquer outra pessoa. Um dia, ele foi longe demais, portanto eu lhe perguntei: “Você diz que Honor Oak é ruim, por isso não seria melhor se você partisse? Por que você permanece aqui?” Ele respondeu, apontando para seu coração: “A razão jaz aqui; ele deseja ficar. Toda vez que eu arrumo minhas coisas para partir, minha paz de coração se vai. Uma vez eu até fui embora por duas semanas, mas tive que escrever e pedir para retornar.” Eu disse: “Irmão, você tem visto esses dois caminhos: o caminho da vida e o caminho daquilo que você considera ser certo ou errado?” Ele disse: “Alguns dias eu vou ao meu quarto para fazer minhas malas pelo menos umas três vezes. Mas cada vez que eu quero partir, há uma proibição interior. Interiormente, sinto que eles estão fazendo coisas erradas, mas também sinto que seria errado partir para mim.” Deus tinha lhe mostrado que caso ele pudesse receber ajuda espiritual ali, ele devia permanecer ali para encontrar Deus. Podemos ver que isso não é uma questão do que concebemos como certo ou errado. Deus usa Sua vida para controlar Seus filhos.
EXTERIORIDADES NÃO GOVERNAM DECISÕES
O maior erro entre os filhos de Deus é que muitas pessoas determinam o certo e o errado por aquilo que vêem. Muitas pessoas determinam o certo e o errado conforme seus conhecimentos e baseados em seus anos de experiência. Portanto, elas não sabem o que é verdadeiramente certo e o que é verdadeiramente errado. Por favor, lembrem-se de que o viver cristão está baseado na vida interior. Muitas pessoas têm apenas exterioridades diante de Deus. Muitas pessoas decidem o que é certo ou errado segundo as coisas exteriores. A vida, entretanto, é uma questão diferente. Aqueles que têm vida sabem o que é isso.
Espero que todos nós vejamos isso diante de Deus: Nenhum cristão pode determinar qualquer coisa à parte da vida. O que quer que aumente a vida interior é certo, e o que quer que decresça a vida interior é errado. Ninguém deve determinar se um assunto é certo ou errado por algum padrão exterior.
Eu me recordo de ter ido a certo lugar onde os irmãos estavam trabalhando com resultado verdadeiro. Deus os estava usando verdadeiramente. Se você me perguntasse se sua obra era perfeita ou não, eu teria que dizer que havia espaço para melhora. Com grande humildade, eles me pediram para apontar qualquer coisa que eu visse que poderia ser corrigida, por isso, eu mostrei isso e aquilo. Eles me pediram várias vezes, mas não mudaram nada. Eu fiquei irritado? Não! Uma pessoa tola ficaria irritada, mas aquele que conhece a Deus não pode ficar aborrecido. Eu tão-somente pude mostrar questões externas que precisavam de ajustes, porém não podia ver aquilo que Deus estava fazendo dentro deles. Eu não tinha qualquer modo de dizer a Deus o que Ele devia fazer dentro deles.
Em outro lugar, o qual visitei, os irmãos não estavam pregando o evangelho. Eles discutiram a questão comigo e me perguntaram se eu pensava que eles deviam fazê-lo. Eu respondi: “Falando doutrinariamente, certamente devemos pregar o evangelho.” Eles disseram que perceberam isso também, mas que, surpreendentemente, Deus não lhes dera a vida para fazê-lo. Aqueles que conhecem a Deus podem somente ficar de lado em silêncio, pois nosso caminho é Sua vida, não o certo e errado. A diferença entre esses dois princípios é imensa. Irmãos e irmãs, o contraste aqui é muito grande. Muitas pessoas só pensam se lhes é certo ou errado fazer algo. Todavia, hoje não devemos agir conforme o que é certo e o que é errado. A única pergunta que devemos fazer hoje é se a vida divina dentro de nós se levanta ou cai. Isso é o que deve determinar o caminho que tomamos. Tudo é decidido em nossos corações.
"A ELE OUVI”
No Monte da Transfiguração, Moisés estava presente, representando o padrão moral externo, e Elias estava presente, representando o padrão externo, humano (Mt 17:3). Todos nós sabemos que Moisés representa a lei, e Elias representa os profetas. O padrão da lei estava presente, e o padrão dos profetas estava presente. No Velho Testamento, a lei e os profetas eram muito qualificados para falar, contudo Deus silenciou-os aqui. Deus disse a Pedro: “Este é o meu Filho amado,... a Ele ouvi” (v. 5). Hoje, o padrão para o viver cristão não é mais a lei, sequer é os profetas. O padrão para o viver cristão é, agora, o próprio Cristo; é o Cristo que habita dentro de nós. Por conseguinte, não é uma questão de se estamos certos ou errados, mas de se a vida divina em nós concorda ou não com algo. Freqüentemente, para nossa surpresa, descobrimos que a vida dentro de nós desaprova aquilo que aprovamos. Quando isso acontece, não podemos insistir sobre aquilo que pensamos estar certo.
A VIDA DIVINA DEVE SER SATISFEITA
Eu me lembro da história de dois irmãos, ambos cristãos, que tinham um arrozal. Os arrozais precisam ser irrigados. Seus arrozais estavam na metade da subida de um monte; outros estavam mais embaixo. No grande calor do dia, eles tiravam água e enchiam seu arrozal. À noite, iam dormir. Porém, enquanto estavam dormindo, o fazendeiro da fazenda mais abaixo do monte cavava um buraco no canal de irrigação em volta do campo dos irmãos e deixava toda a água correr para dentro do seu campo. Na manhã seguinte, os irmãos viram o que havia acontecido, todavia eles não disseram nada. Novamente, encheram os canais com água. No dia seguinte, eles viram que seu campo tinha sido esvaziado outra vez, contudo ainda não disseram nada. Eles eram cristãos e sentiram que deveriam suportar em silêncio. Isto aconteceu todo dia, por uma semana. Algumas pessoas sugeriram que eles ficassem de guarda, em seu campo, à noite, para apanhar o ladrão e bater-lhe. Eles não disseram uma palavra como resposta; apenas suportaram, pois eram cristãos. Segundo o conceito humano, eles deviam ter estado a caminhar alegremente, de modo feliz, e vitoriosamente, pois estavam sofrendo em silêncio, mesmo depois de tirarem água diariamente e essa ser roubada muitíssimas vezes. Contudo, estranhamente, ainda que eles tirassem água todo dia e permanecessem silenciosos enquanto outros a roubavam, não tinham paz em seus corações. Eles, então, foram ver um irmão com alguma experiência na obra do Senhor e disseram: “Nós não entendemos porque não temos paz depois de sofrer por sete ou oito dias. Os cristãos devem sofrer e permitir que outros os roubem, contudo não temos paz em nossos corações.” Esse irmão era muito experiente. Ele disse: “Vocês não têm feito o suficiente, nem têm suportado o bastante. Vocês devem primeiramente encher o campo da pessoa que tem roubado sua água. Então podem encher seu próprio campo. Vão e experimentem isso, então vejam se terão paz interior.” Ambos concordaram. No próximo dia, eles se levantaram mais cedo que de costume e encheram o campo da pessoa que tinha roubado sua água, antes de encher seu próprio campo. Estranhamente, eles se tornavam mais e mais alegres enquanto enchiam o campo daquelas pessoas. Quando foram encher seu próprio campo, tinham paz em seus corações. Estavam em paz com o pensamento de permitir que aquela pessoa roubasse sua água. Depois de dois ou três dias fazendo isso, a pessoa que havia roubado sua água veio desculpar-se dizendo: “Se isso é cristianismo, eu quero ouvir a seu respeito”.
Isso nos mostra que no âmbito do certo e errado, sofrer é correto. Que mais podemos pedir que alguém faça? Aqueles tinham passado um dia inteiro tirando água, e não num tempo bom, mas num tempo quente. Eles não eram pessoas instruídas; eram fazendeiros. Tinham feito a coisa certa e boa. O que mais poderia alguém pedir deles? Todavia, não tiveram paz interior. Isto ilustra o caminho da vida. Esse é o caminho que tomamos. O caminho do certo e errado é outro caminho. O homem diz que o certo é bom o bastante, mas Deus diz que somente a vida é suficiente. Devemos fazer coisas até o ponto que a alegria e a paz sejam produzidas interiormente. Essa é a diferença entre o caminho da vida o caminho do certo e errado. É como se o certo e errado fossem suficientes e que nada mais fosse necessário. Porém, Deus não está satisfeito com o estar certo. Ele exige que satisfaçamos a vida divina.
O que o Sermão do Monte em Mateus 5 ___ 7 nos ensina? Ele nos ensina nada menos que estar certo não é o bastante. Devemos fazer coisas de um modo que satisfaça a vida que Deus nos tem dado. Este é o conteúdo de Mateus 5 ___ 7, o Sermão do Monte. O Sermão do Monte não diz que tudo está certo contanto que as coisas sejam feitas conforme o que é certo. O homem pergunta por que ele tem que voltar a outra face quando alguém lhe bate. Não é bom o bastante se não dizemos nada quando alguém nos fere? Não é maravilhoso que não o tenhamos repreendido e mostrado grande moderação? Contudo, Deus diz que não é mesmo o bastante apenas abaixar nossas cabeças e partir quando somos feridos. Isto não satisfaz a vida interior. Devemos voltar nossa outra face para essa pessoa ferir também. Isto significa que não temos ódio em nossos corações. Não estamos irados e podemos suportar esse tratamento uma segunda vez. A vida é humilde. A vida pode voltar a outra face para outro soco. Esse é o caminho da vida.
Muitas pessoas dizem que Mateus 5 ___ 7 é muito difícil para elas. Admito que seja. É-nos impossível cumprir Mateus 5 ___ 7. Se tentarmos, morreremos, pois não podemos fazê-lo. Entretanto, temos outra vida dentro de nós. Ela nos diz que não ficaremos felizes se não fizermos isso. Não importa quanto tenhamos sido ofendidos por um irmão ou irmã. Se não nos ajoelharmos para orar por ele ou ela, não teremos alegria interior. É bom sofrer em silêncio, mas se não seguirmos o ensino do Sermão do Monte, não teremos alegria interior. O Sermão do Monte ensina que devemos satisfazer a vida de Deus dentro de nós. Ao fazer essas coisas, a vida divina é satisfeita, liberada, em paz e feliz. Essa é toda a questão: Estamos caminhando no caminho da vida ou no caminho do certo e errado? Se lermos a Palavra de Deus claramente, veremos que é errado decidir questões pelo princípio do certo e errado ou vivermos, agirmos, e termos nosso ser conforme nossa vida de ego.
DEVE HAVER PLENITUDE DE VIDA INTERIOR
Algumas vezes, nos deparamos com um irmão que agiu mui tolamente. Segundo aquilo que é adequado, deveríamos exortá-lo ou repreendê-lo fortemente. Dizemos a nós mesmos que ele precisa de um tratamento sério, radical. Preparamo-nos para enfrentar a situação, pois sabemos que ele estará por perto por alguns dias. Vamos à sua casa e batemos à porta, mas então nos perguntamos se estamos certos ou errados. Ele agiu tolamente, portanto o que podemos fazer a não ser exortá-lo? Vamos à sua porta e levantamos nossa mão para bater, contudo, interiormente, existe um problema. Nossa mão levantada inclina-se para nosso lado. Ainda que tenhamos nos convencido que estamos certos, isso não é uma questão de certo e errado. É uma questão de se a vida de Deus nos permite ou não. Muitas vezes, quando formos exortar um irmão, ele receberá nossa exortação com cortesia e prometerá fazer o que Deus diz. Contudo, quanto mais pregamos para ele, mais nosso ser interior murcha. Quando retornamos ao lar, temos que admitir que estávamos errados em exortar o irmão! Portanto, não é uma questão de bom ou mau, mas uma questão de ser cheio de vida interiormente.
Vou lhe dar outro exemplo. Encontrei um irmão necessitado alguns dias atrás. Ele era extremamente pobre e necessitava de alguma ajuda. Pensei que, certamente, devia fazer algo por ele, pois não havia perspectiva de ajuda vindo para ele de qualquer direção. Justamente naquele momento, eu não tinha qualquer reserva, portanto foi um grande sacrifício ajudá-lo. Parecia que eu estava excedendo os meus limites para ajudá-lo. Conforme o que é adequado, eu estava certo. Eu devia ter ficado feliz quando lhe dei algum dinheiro. Entretanto, por alguma razão desconhecida, eu murchei interiormente quando lhe dei o dinheiro que lhe tinha prometido. Uma voz dentro de mim dizia: “Você está agindo apenas por caridade. Isto não foi um ato de vida; foi meramente cortesia humana e bondade natural. Não foi feito em vida, mas em você mesmo.” Deus não queria que eu fizesse isto. Tenho sofrido a respeito desse assunto por duas ou três semanas. Ainda que dei dinheiro ao irmão, tive que me prostrar diante de Deus, confessar meu pecado, e pedir Seu perdão quando cheguei em casa.